No sentido escrito da palavra, Paulo não foi pastor, já que nunca se dedicou ao pastoreio de ovelhas, nem esteve diretamente a cargo de uma comunidade, na qualidade de “ancião” ou “epíscopo”.
Entretanto, dada sua condição de apostolo e evangelizador, encontramos em sua vida e escritos muitos elementos doutrinais e vivenciais acerca do ministério pastoral e da espiritualidade que o sustenta.
É a partir desta visão ampla que nos aproximaremos de Paulo, como pastor e modelo de agente pastoral. Seu ensinamento e exemplo possuem uma grande atualidade para todo agente pastoral.
Paulo e sua experiência de Deus
A experiência de Deus vivida por Paulo foi de uma originalidade e riqueza extraordinárias. Experimenta um Deus que se revela em Jesus Cristo como um Pai “rico em misericórdia”.
“...Deus nos abençoou com toda benção espiritual nos céus, em Cristo. Nele, Deus nos escolheu, ... para sermos santos e integro diante dele, no amor. Conforme desígnio de sua vontade, ele nos predestinou à adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo” (Ef 1, 3-6). Paulo experimentou vivamente o amor gratuito de Deus, manifestado em Cristo “imagem do Deus invisível” (Cl 1,15).
E sabe-se pessoalmente convidado pelo Senhor Jesus a anunciar o Evangelho. Esta convicção de fé constitui o motor que o impulsiona a se entregar totalmente a serviço de seus irmãos, sem lhe importarem as dificuldades e sofrimentos inerentes a sua missão (cf. 2Cor 11, 23-28).
Paulo é um apaixonado por Cristo e considera que nada tem valor comparado com o “Bem Supremo” de conhecer a Cristo Jesus e de encontrar-se unido a ele (cf. Fl 3,8). O que quer é conhecer a Cristo, sentir o poder se sua ressurreição, tomar parte em seus sofrimentos e chegar a ser como ele em sua morte, com a esperança de alcançar a ressurreição dos mortos (cf. Fl 3, 10-11). Apenas esta firme e constante busca de seu coração de fogo pode levá-lo a dizer mais tarde “Com Cristo”, eu fui pregado na Cruz. Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim (Gl 2 19b-20).
Seu conhecimento de Jesus não consiste em um saber intelectual sobre ele, mas em uma experiência intima, que por sua vez o levou a experimentar também o Pai de Jesus como seu próprio Pai. E o Espírito Santo, sem cujo auxilio é impossível chamar Jesus de Senhor e Deus de Pai (cf. Gl 4, 6-7; Rm 8, 15).
Paulo se sentiu invadido pela vida trinitária e viveu imerso nela, daí não deixar de convidar a “sempre e por todas as coisas, no nome de nosso Senhor Jesus Cristo, rendei graças a Deus que é Pai” (Ef 5, 20) e a não pagar “a ação do Espírito” (1Ts 5, 19).
Em resumo: a experiência que Paulo tem de Deus é a de alguém que nos invade por dentro e nos circunda por fora; um Deus no qual “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28). Tal experiência constitui o fundamento e o motor de todo o ministério pastoral que realiza sob a máxima: “ Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1Cor 9, 16).
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