A Festa do Batismo do
Senhor, celebrada no Domingo depois da Epifania encerra o ciclo das Festas da
Manifestação do Senhor, o ciclo de Natal. Comemoramos o Batismo de Jesus por
São João Batista nas águas do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que purificar,
Jesus quis submeter-se a esse rito tal como se submetera às demais observâncias
legais que também não o obrigavam.
O Senhor desejou ser
batizado, diz Santo Agostinho, “para proclamar com a sua humildade o que para
nós era uma necessidade”. Com o batismo de Jesus, ficou preparado o Batismo
cristão, diretamente instituído por Jesus Cristo e imposto por Ele como lei
universal no dia da sua Ascensão: Todo poder me foi dado no céu e na terra,
dirá o Senhor; ide, pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai
e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 18-19).
O dia em que fomos
batizados foi o mais importante da nossa vida, pois nele recebemos a fé e a
graça. Antes de recebermos o batismo, todos nós nos encontrávamos com a porta
do Céu fechada e sem nenhuma possibilidade de dar o menor fruto sobrenatural.
Devemos agradecer a
Deus a Graça do Batismo. Agradecer que nos tenha purificado a alma da mancha do
pecado original, bem como de qualquer outro pecado que tivéssemos naquele
momento. A água batismal significa e atualiza de um modo real o que é evocado
pela água natural: a limpeza e a purificação de toda a mancha e impureza.
“Graças ao sacramento
do Batismo tu te converteste em templo do Espírito Santo: não te passe pela
cabeça – exorta São Leão Magno – afugentar com as tuas más ações um hóspede tão
nobre, nem voltar a submeter-te à servidão do demônio, porque o teu preço é o sangue
de Cristo.”
Na Igreja, ninguém é um
cristão isolado. A partir do Batismo, o cristão passa a fazer parte de um povo,
e a Igreja apresenta-se como a verdadeira família dos filhos de Deus. O batismo
é a porta por onde se entra na Igreja.
“E na Igreja,
precisamente pelo Batismo, somo todos chamados à santidade” (LG 11 e 42), cada
um no seu próprio estado e condição. A chamada à santidade e a conseqüente
exigência de santificação pessoal são universais: todos, sacerdotes e leigos,
estamos chamados à santidade; e todos recebemos, com o batismo as primícias
dessa vida espiritual que, por sua própria natureza, tende à plenitude. É
importante lembrar o caráter sacramental do Batismo “um certo sinal espiritual
e indelével” impresso na alma no momento (Dz, 852). É como um selo que exprime
o domínio de Cristo sobre a alma do batizado. Cristo tomou posse da nossa alma
no momento em que fomos batizados. Ele nos resgatou do pecado com a sua Paixão
e Morte.
Com estas considerações
é fácil compreender porque é de desejar que as crianças recebam logo o batismo.
Desde cedo a Igreja pediu aos pais que batizassem os seus filhos quanto antes.
É uma demonstração prática de fé. Não é um atentado contra a liberdade da
criança, da mesma forma que não foi uma ofensa dar-lhe a vida natural, nem
alimentá-la, limpá-la, curá-la, quando ela própria não podia pedir esses bens.
Pelo contrário, a criança tem direito a receber essa graça. No Batismo está em
jogo um bem infinitamente maior do que qualquer outro: a graça e a fé; talvez a
salvação eterna. Só por ignorância e por uma fé adormecida se pode explicar que
muitas crianças sejam privadas pelos seus próprios pais, já cristãos, do maior
dom da sua vida.
Também nós fomos
marcados pelo Espírito Santo. No batismo ele, derramou-se sobre nós. Fomos
chamados a viver seguindo o Espírito. Isto significa um ato de fé na presença
atuante do Espírito Santo em nós. Implica uma disponibilidade para deixar-se
conduzir por ele a fim de realizar uma missão como a de Cristo.
Em virtude do batismo somos
chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo. Como diz o Doc. de
Aparecida nº 209: “Os fiéis leigos são os cristãos que estão incorporados a
Cristo pelo batismo que formam o povo de Deus e participam das funções de
Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo a sua condição, a missão de
todo o povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no coração do
mundo e homens do mundo no coração da Igreja.”
“Enquanto batizado, o
homem deve sentir-se enviado pela Igreja a todos os campos de atividade que
constituem sua vocação e missão, para dar testemunho como discípulo e
missionário de Jesus Cristo…” (nº 460 do Doc. de Aparecida).
Mons. José Maria
Pereira
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