Convivemos, dentro do clima da pós-modenidade, com a esfera do
individualismo e com o sistema de egocentrismo muito aguçado, que têm como
fonte de sustentação o mito do bem-estar. Isso vem acontecendo na realidade de
endeusamento e idolatria do mercado e do consumo, dificultando a essencial
prática da gratidão.
Temos muitos gestos evidentes de gratidão. Um deles está nos presentes
que oferecemos aos amigos em diversas ocasiões. Mas não basta somente isso se
não valorizamos a pessoa na sua identidade, reconhecendo nela o bem que faz,
sendo até merecedora do gesto de gratidão. Agradecer é confiar sem ficar
exigindo troca.
Às vezes agradecemos um estrangeiro com mais frequência e facilidade do
que a quem está sempre conosco. Na convivência achamos ser um direito o que o
outro faz por nós e não nos preocupamos com o ato da gratidão. Isso pode ter a
conotação de não valorizar o que recebemos de quem convive conosco todo dia.
A Bíblia fala de dez leprosos que ficaram curados (cf. Lc 17,11-19).
Apenas um, que era estrangeiro, voltou para agradecer. Isso foi causa de
crítica de Jesus, porque demonstraram atitude de ingratidão, de fechamento em
si mesmos. Podemos até concluir que a ingratidão coincide um pouco com a
injustiça e o não reconhecimento do valor de quem nos faz o bem.
Louvor, graça, gratidão, gratuidade e agradecimento são palavras-chave,
que ajudam no relacionamento comunitário. Há o perigo de sermos mais propensos
a pedir do que a agradecer. Pior ainda é quando queremos levar vantagem em
tudo, tendo atitude de exploração e de injustiça com o outro. Ser grato é ser
fraterno e capaz de ajudar na boa convivência.
Dom Paulo Mendes
Peixoto
Arcebispo de Uberaba
(MG)
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