Um novo Pentecostes, existencial e espiritual, deve acontecer sempre, em
todas as épocas e para todos os cristãos. A passagem de direito para a nova
aliança dá-se no instante preciso do batismo, mas a passagem moral, psicológica
– ou de fato – requer uma vida inteira. Pode-se viver objetiva e historicamente
sob a graça, mas subjetivamente, com o coração, sob a lei.
Cristo nos libertou para que fôssemos livres: “ficai, portanto, firmes e
não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gl 5,1). Viver na nova
aliança é como nadar contra a correnteza; se parar de nadar, a pessoa é
arrastada pelas águas. Continuamente, todos os dias, é preciso renovar a
novidade.
A novidade cristã é ofuscada quando se insiste unilateralmente nos
deveres, nas virtudes, no que deve ser feito pelo homem, quando a graça é vista
como um auxílio para o homem, a fim de suprir o que ele não pode fazer sozinho.
O centro de atenção desloca-se de Deus para o homem e da graça para a
lei. Os homens podem dar leis, mas só Jesus Cristo pode, com Seu Espírito, nos
dar a graça de vivê-las.
Em consequência do pecado, o ser humano não consegue ver a grandeza da
nova aliança, pois está impedido por uma espécie de véu, que será removido
somente quando nos convertermos ao Senhor (cf. II Cor 4,14ss).
É preciso despojar-se de tudo o que é velho e ultrapassado. É preciso
cantar o cântico novo, mas esse cântico só pode ser cantado por homens novos, e
homens novos necessitam de coração novo. Com o Pentecostes, tudo é novo: novo
testamento, vinho novo, cântico novo, vaso novo e homem novo. Só quem tem
coração novo é capaz de cantar o cântico novo.
Cristo nos deu um mandamento novo: amar-nos uns aos outros como Ele nos
amou. É este amor que nos renova, fazendo-nos homens novos, herdeiros do
testamento novo, cantores do cântico novo.
Um novo Pentecostes precisa ir além da experiência dos carismas. Por
mais importantes que sejam, eles são apenas um sinal de algo muito mais
profundo. Se o primeiro Pentecostes celebrava o dom da lei, o novo Pentecostes
é o grande presente de Deus, que cria o coração novo e a nova aliança,
possibilita-nos um jeito novo de amar e servir a Deus.
Além da profecia de Joel sobre os carismas, que é a certeza da
realização do derramamento do espírito profético sobre todos os fiéis, também o
novo Pentecostes é o cumprimento da profecia de Ezequiel e de Jeremias sobre o
coração novo.
O Espírito Santo é muito mais do que a manifestação carismática. Antes,
é um princípio de vida nova. Ele permite e realiza a renovação da Igreja, não
só em seu aspecto exterior, mas, sobretudo, consiste na renovação do coração.
Para cada um de nós, a porta de entrada para este novo Pentecostes
atuante na Igreja é uma renovação do batismo. O fogo do Espírito nos foi
depositado nesse sacramento; devemos remover a camada de cinzas para que volte
a arder e nos tornemos capazes de amar.
Padre Léo
Retirado do livro Renovados pelo Espírito Santo
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