Entramos num tempo lindo, uma época para deixar a pressa do cotidiano de lado, dar espaço ao silêncio e à reflexão. Podemos afirmar que a Quaresma é um apelo à liberdade. Os jovens que gostam tanto de falar em liberdade deveriam viver intensamente este tempo que a Igreja nos oferece, pois viver bem o tempo quaresmal significa viver a liberdade. Sabemos que ser livre não é algo que vem de fora para dentro, mas, ao contrário, vem de dentro para fora, ou seja, é a liberdade interior que rege nosso modo de viver e pensar, de agir e falar.
Liberdade não significa fazer tudo que queremos. A primeira carta aos Coríntios 6,12 nos indica que “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma”. Nesse trecho, aparece um verbo muito interessante: “dominar”; esta palavra, derivada do latim “dominare“, significa “ser o senhor, mandar”. Ora, se faço tudo que quero, sem critério algum, sou escravo. Nisso não há liberdade, embora tudo me seja permitido.
Como posso ser senhor dos meus atos se cedo à tentação à toda hora? Ou eu sou senhor do meu temperamento ou ele se faz senhor sobre mim, do mesmo modo na minha sexualidade, na língua, na afetividade, nas emoções, etc. Escravo não tem vontade, porque é mandado por seu senhor. O CIC [Catecismo da Igreja Católica], no inciso 1731, nos ensina que “a liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo; portanto, de praticar atos deliberados”. Neste tempo quaresmal, somos chamados a ter lucidez sobre a nossa vontade e nosso querer.
Começamos a dominar o corpo, até as áreas mais íntimas e difíceis de controlar, por meio da boca, ou seja, do jejum e da abstinência. Isso sim é poder baseado na razão. Porém, nada podemos empreender em nossa vida espiritual sem a graça de Deus, porque tudo provém dela. São Paulo mesmo nos diz: “Isso não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus” (cf. Efésios 2,8). Em seus propósitos, não diga “nem vou começar, pois sou fraco e não vou conseguir”, pois agora você sabe que a graça é puro dom do Senhor. Por nós mesmos não conseguiremos, no entanto, tenhamos confiança em Deus, pois para Ele nada é impossível” (cf. Lucas 1,37).
Rodrigo Stankevicz
Retirado do Blog da Canção Nova
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