Domingo da renúncia para seguir Jesus

Pedro, o discípulo-símbolo, aquele que constrói a comunidade sobre a rocha, é, ao mesmo tempo, uma pedra de tropeço. Ele tem dificuldade de aceitar o caminho da cruz, porque para ele o messias tem que ser um líder bem sucedido, e nem passa pela sua cabeça que a cruz seja um caminho obrigatório. O próprio Jesus teve que vencer a tentação de realizar a missão usando como meios o poder e o dinheiro. A partir do momento em que ele assume a missão, não como um rei de Israel, mas como um servo de Deus, teve de enfrentar muitos desafios e sofrimentos. 

Mas este evangelho não serve para justificar o sofrimento humano, seja ele causado por uma doença ou pela miséria, ou por qualquer outro peso que se imponha sobre nós. O evangelho nos manda combater o sofrimento e a morte. Quando nos pede para abraçar a cruz, está se referindo às renúncias e aos riscos que temos de correr para sermos fiéis à missão que o Pai nos confia. Muitas vezes é preciso abrir mão de sonhos pessoais legítimos e colocar os interesses da comunidade acima dos nossos próprios interesses para obedecermos aos caminhos de Deus. Não só em nível pessoal, mas coletivo e social. 

Também a Igreja é convidada pelo Senhor a renunciar a si mesma e a abandonar toda pretensão de prestígio e força, para que possa cumprir efetivamente sua missão salvadora. 

E a comunidade cristã oferece esta ética da doação e renúncia de si como um caminho de superação de tantos problemas, como a concentração das riquezas nas mãos de poucos.

O anúncio da cruz, no qual nós fomos batizados e que constitui o caminho do nosso discipulado, é feito a nós todas as vezes que nos reunimos para celebrar. Da mesma forma que o cristão não pode evitar o escândalo da cruz, nossa assembléia não pode deixar de perceber a marca de pobreza com que Deus se apresentou. A liturgia não é feita de prodígios e sinais extraordinários, nem tem sua essência no espetáculo ou no teatral. Como revelação de Deus, ela se constitui como a simples, mas profunda reunião de homens e mulheres, discípulos e discípulas, que fazem a memória da paixão e entrega do Senhor, mas também de sua ressurreição. O que constitui o centro e o eixo da liturgia é a memória do dom que Jesus fez da própria vida e da vida que ele gerou com isto. Como afirmamos todas vezes que celebramos a eucaristia: “Anunciamos, Senhor, vossa morte e proclamamos vossa ressurreição!”.

Retirado da Revista de Liturgia

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