O capítulo 10 do evangelho de Marcos é uma síntese dos temas mais variados que nos ajudam a compreender como a mensagem de Jesus não se refere somente a um assunto, mas sim abrange toda a vida humana. Devemos também compreender que o evangelista não está preocupado em referir o antes ou depois do que Jesus possa ter dito; a sua preocupação catequética depende dos seus destinatários. É maravilhoso notar como nos evangelhos não existe uma cronologia dos fatos, mas uma necessidade de “relembrar” o que Jesus disse para que toda a realidade seja iluminada a partir de dentro, como fermento de vida nova.
Três são as mensagens deste trecho do evangelho que devemos meditar e compreender bem para sermos autênticos discípulos de Jesus. O evangelista nos apresenta os irmãos “boanerges”, filhos do trovão. O mesmo apelido nos diz que não eram lá muito mansos. E eles, com uma certa ousadia, pedem para Jesus: “mestre, queremos que o Senhor faça o que nós lhe pedimos!” Jesus aceita este desafio e pede que digam o que eles desejam. No entanto se vê claramente que o desejo deles não é espiritual, mas sim de poder, de mando. Querem ocupar os primeiros lugares entre os outros discípulos.
1. Jesus nos convida a esvaziar-nos de todo poder. Toda sede de domínio é anti-evangélica. O mistério do amor de Deus não admite sermos “mais que os outros”, a não ser no amor, no serviço. Não há como viver o evangelho pensando em si mesmo e procurando o próprio comodismo e bem estar. Mas a pedagogia que Jesus usa para que eles possam compreender isto é muito significativa. Jesus não impõe somente, apresenta, convida e deixa para cada pessoa a liberdade de “agir, de ser”, de construir o próprio futuro.
2. Jesus recorda aos dois discípulos que eles não “sabem” o que estão pedindo e que não entenderam nada da convivência com ele durante o tempo de discipulado. Ele lhes apresenta uma outra proposta: é necessário beber o cálice. De qual cálice está falando? O cálice que Tiago e João entendem não é o que Jesus oferece. Eles compreendem o cálice de vinho, de plenitude de abundância. Mas Jesus oferece o cálice do sofrimento, e já prevendo a morte deles, os educa para estarem preparados para aceitar tudo com amor. Não cabe, porém a Jesus determinar que eles se sentem à direita e esquerda. Este é o segredo do Pai, somente sentarão ali aqueles para quais foi reservado este lugar. Uma linguagem que ainda para os discípulos não é de fácil compreensão porque não estão vivendo a plenitude do amor e da doação ao Cristo e ao seu mistério. É compreensível a reação dos demais apóstolos que se sentem defraudados pela “invasão” dos filhos de Zebedeu. Uma reação infantil, imatura como são as nossas reações quando nos sentimos passados para trás ou alguém nos puxa “o tapete”.
3. A terceira mensagem fundamental e importante é o ensinamento que Jesus dá a todos nós, presentes nos discípulos diante deste conflito criado entre os discípulos por causa da sede de poder e de querer ser maiores que os outros. Um ensinamento que tem toda a sacramentalidade do amor e da diaconia. O Cristo se apresenta como o verdadeiro servo de todos. A grandeza de quem ama não é ser servido, mas sim “servir” com todo o próprio ser. Esta é a grande novidade do anúncio do reino: ser servos de todos. Teresa de Ávila, com muito acerto, fala que nós somos “servos do amor”. Aquele amor que habita em nós e nos impulsiona ao total esquecimento de nós mesmos para sermos só de Deus e dos outros.
No cristianismo não há projeção nem prêmio terrenos e nem tampouco título pelo bem que fazemos. Somente Deus nos recompensará. O amor é a grande força que vai transformando a sociedade numa civilização do amor. Ao nosso redor vemos por todos os lados, mesmo dentro da Igreja, a corrida para o poder, para “mordomias”, mas pouco para o serviço generoso e desinteressado. Não há nada de mais belo que servir, de mais gratificante que servir, fazendo do amor o mais belo serviço.
Retirado do Site da Comunidade Shalom
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