Água da graça

A celebração da páscoa coloca-nos diante da possibilidade de participarmos do mesmo processo pelo qual Jesus de Nazaré passou: enfrentar a morte e, pelo poder de Deus, vencê-la! Na vida cristã esta experiência é iniciada a partir da recepção do sacramento do batismo. É o apóstolo Paulo quem afirma esta verdade: “Pelo batismo somos sepultados na morte com o Cristo, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também vivamos de modo novo” (Rm 6, 4).
 
E ele continua dizendo: “Com ele, vocês foram sepultados no batismo, e nele vocês foram também ressuscitados mediante a fé no poder de Deus, que ressuscitou Cristo dos mortos” (Col 2, 12). A participação na vida do morto-ressuscitado é querida por Deus desde sempre, desde a criação do mundo.
 
É por isso que “a própria criação espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus... e geme e sofre dores de parto... à espera da adoção” (Cf. Rom 8, 18-27). Portanto, toda obra criada - a natureza humana e as demais naturezas - tem o mesmo princípio e encaminha-se para a plena comunhão com aquele que a fez e que a contemplou como muito boa (Cf. Gn 1, 31).
 
Toda a natureza, em si mesma, é boa. Feita pelo Criador. Por isso, permeada pelo divino, pelo sobrenatural. Nela está contida “as sementes do Verbo de Deus”... Contemplando-a, São Francisco de Assis adotou-a fraternalmente. Para ele, as belezas criadas por Deus tornaram-se irmãs e irmãos: “irmão sol”; “irmã luz”; “irmão lobo”; “irmã água”... Dessa visão nasce um novo modo de considerar a criação e as criaturas. Penso que esta bela forma de tratar a natureza ajuda-nos a descobrir o significado de cada ser criado.
 
Dentre as coisas criadas, uma é substancial para a sobrevivência da vida: a água! Tanto o é que, por meio dela, no Batismo, recebemos a graça da filiação divina e o lugar preferencial no povo de Deus.
 
No tempo pascal que se aproxima, voltemos o nosso olhar para aquela água derramada em nosso corpo e que nos fez mergulhar no mistério central da nossa fé, a morte e ressurreição de Jesus. Nela fomos sepultados e ressuscitados com Cristo. Por meio do sacramento do Batismo, mergulhamos na vida daquele que “mata a sede para sempre” e é a “a fonte de água que jorra para a vida eterna” (Cf. Jo 4, 13-15) e faz-nos sal, fermento e luz do mundo.
 
A água do sacramento do batismo coloca-nos em plena sintonia com toda a criação. Sentimo-nos membros, mas também responsáveis por toda a natureza. Afinal de contas, o batismo colocou em nossa vida a semente de uma “sobre-vida”, a vida sobrenatural. Isso traz conseqüências profundas para o nosso existir. Dentre elas, está o nosso dever de “cristificar” a vida e construir “comunhão cósmica”, de fraternidade, entre todas as maravilhas criadas por Deus. Como?
 
Valorizando-se e valorizando as pessoas como as mais sagradas das criaturas; vivendo uma verdadeira mística ecológica de respeito ao próximo, ao cosmos e à natureza como um todo; tomando consciência que nada na natureza está abaixo do mercado; reagindo diante de privatizações de elementos da natureza que são propriedades de Deus e da comunidade humana; indo contra todo tipo de depredação.
 
Padre Júlio Antônio da Silva
Retirado do Site da Arquidiocese de Maringá

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