Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

O Evangelho de Marcos está situado na parte inicial da narrativa da paixão (14,1-31). Após o reconhecimento de Jesus como o Ungido/ Messias pelo gesto da mulher anônima (14,1-11), sua entrega aparece no contexto da Páscoa judaica (Mc 14,12-16) e a última Ceia está ligada à realização plena do banquete messiânico no Reino de Deus (Mc 14,17-31). Enviado para “servir e dar a vida em resgate por muitos” (10,45), Jesus trilha o caminho de fidelidade ao Pai até a entrega total na cruz.

Jesus e os discípulos estão em Jerusalém para a festa da Páscoa, memorial da libertação do Egito que reavivava a esperança da salvação definitiva a realizar-se por meio do Messias. A festa da Páscoa era celebrada durante oito dias. No primeiro dia, imolava-se o cordeiro pascal. A Páscoa que os discípulos celebrarão é a da morte de Jesus, o Messias crucificado. Por isso, os preparativos da ceia pascal sublinham a iniciativa de Jesus. Os discípulos “encontram uma grande sala arrumada com almofadas por Jesus” (Cf. Mc 14,15), que prepara a sua Páscoa. Ele se oferece como o verdadeiro cordeiro pascal, realizando plenamente a esperança profética (Cf. Is 52, 13-53,12).

Jesus durante a ceia pascal, dá um sentido novo aos gestos rituais que eram realizados por ocasião das refeições judaicas solenes. Ao tomar o pão, Jesus pronunciou a benção, partiu-o e entregou  a eles, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo “  (Mc 14,22). Depois tomou o cálice, deu graças, entregou a eles e todos beberam. Jesus desse-lhes: “Este é o meu sangue da nova aliança, que é derramado por muitos” (14,23-24). Os discípulos, ao compartilhar do pão e do vinho associados à morte de Jesus, alimentam-se de seu corpo e sangue oferecidos para a vida nova e definitiva de todos.

A expressão “sangue da aliança” remete a Êxodo 24,8, à aliança no Sinai selada com o sangue de animais. O profeta Jeremias anunciou a nova aliança (Cf. Jr 31,31-34), que foi selada definitivamente em Cristo “pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, perfeita realizada uma vez por todas” (Cf. Hb 10,10). O “sangue derramado em favor de muitos” alude, de modo especial a Isaías 53,12 e indica que Jesus é o Servo sofredor por excelência, que entrega a vida pela salvação da humanidade. A Eucaristia torna-se o memorial da nova aliança, plenificada na morte redentora de Cristo.

Jesus, por meio da paixão, morte e ressurreição, “beberá o vinho novo no Reino de Deus” (Mc 14,25). Sua última ceia realizada a esperança messiânica, a festa do Reino anunciada pelo profeta (Cf. Is 25,6) e manifestada na abundancia do alimento (6,30-44; 8,1-10). Na ceia de entrega da vida, que Jesus celebra com seus discípulos, culminam as refeições celebradas com os publicanos e pecadores (2,16), com os excluídos. Manifestam-se a realidade do banquete escatológico, a esperança na realização plena do Reino. Antes de ir para o monte das Oliveira, Jesus canta o hino, isto é, os salmos de louvor (113-118) (Os Salmos 113-118 formam a coleção do Halle ou “Aleluia“. Eles eram cantados nas grandes festas de romaria e na ceia pascal (Cf. Mc 14,26)).

A Leitura do livro do Êxodo descreve a conclusão da aliança no Sinai entre Deus e o povo. Moisés, depois de fazer a experiência do encontro com o Senhor (19,3;24,1-2), reúne o povo e comunica “todas as palavras e todos os decretos do Senhor” (24,3a). Trata-se especialmente dos dez mandamentos (20,1-21) e do código da aliança (20,22-23,33). O povo compromete-se a seguir o caminho da aliança, que proporciona a comunhão com Deus e entre si: “faremos tudo o que o Senhor nos disse!” (24,3b).

Moisés construir um altar e criou um espaço digno para a comunidade celebrar e oferecer um sacrifício de comunhão (24,4-5). As doze colunas sagradas sublinham o sentido da aliança para todo o Israel. Após a leitura solene do “livro da aliança”, aspergiu o altar e o povo com o sangue do sacrifício, o “sangue da aliança”. Assim, os dois contraentes da aliança: Deus, representado no altar (24,6) e o povo (24,8) que renova o compromisso de obediência à Palavra (24,7), estão unidos na comunhão de vida.

O Salmo 115 (116B) é uma oração de louvor e ação de graças ao Senhor, pois foram quebradas as cadeias da opressão. O salmista ergue o cálice da salvação e invoca o nome do Senhor, como sinal de compromisso.

A leitura da Carta aos Hebreus acentua que Cristo ressuscitado é o novo sumo sacerdote, que entrou no santuário através da tenda maior e mais perfeita. Com a única oferenda de si meso, levou à perfeição para sempre os que Ele santifica (Cf. 10,14), superando os sacrifícios antigos. O sumo sacerdote entrava no santuário, nos Santos dos Santos, para oferecer o sacrifício anual de expiação (Cf. Lv 16). Cristo ofereceu a vida por nossa libertação definitiva. Seu caminho, plenificado no mistério pascal, conduz à comunhão plena com Deus.

“Cristo, em virtude do Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha. Ele purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (9,14). Como a conclusão da aliança realizava-se mediante a efusão de sangue (Cf. Ex 24,6-8), a nova aliança revela-se plenamente na morte redentora de Cristo em favor de toda a humanidade. Assim, Cristo é ressaltado como “Mediador da nova aliança” (9,15).


Diocese de Limeira

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