Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor

O Evangelho da Ressurreição de Jesus Cristo (Cf. Mc 16, 1-7) começa referindo o caminho das mulheres para o sepulcro, ao alvorecer do dia depois do sábado. Querem honrar o corpo do Senhor e vão ao túmulo, mas encontram-no aberto e vazio. Um anjo majestoso diz-lhes: “Não vos assusteis!” (Mc 16,6). E ordena-lhes que levem esta notícia aos discípulos: “Ele não está aqui… Ele irá à vossa frente na Galileia”. As mulheres se assustam, mas confiam. “Não temais”: essa é a voz que encoraja a abrir o coração para abrir para receber este anúncio.

Depois da morte do Mestre, os discípulos tinham-se dispersados; tudo parecia ter acabado: desabadas asa certezas, apagadas as esperanças. Mas agora, aquele anúncio das mulheres, embora incrível, chegava como um raio de luz na escuridão. A notícia espalha-se: Jesus ressuscitou, como predissera. E de igual modo a ordem de partir para a Galileia; duas vezes a ouviram as mulheres, primeiro do anjo, depois do próprio Jesus: “Partam para a Galileia. Lá Me verão”. “Não temais” e “ide para a Galileia”.

A Galileia é o lugar da primeira chamada, onde tudo começara! Trata-se de voltar lá, voltar ao lugar da primeira chamada. Jesus passara pela margem do lago, enquanto os pescadores estavam consertar as redes. Chamara-os “e eles, deixando tudo, seguiram-No” (Cf. Mt 4, 18-22).

“Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado” (1Cor 5,7): ressoa hoje esta exclamação de Paulo que ouvimos na segunda leitura, tirada , da primeira Carta aos Coríntios. É um teto que remonta apenas há uns vinte anos depois da morte e Ressurreição de Jesus e no entanto – como é típico de certas expressões paulinas – já encerra, numa síntese admirável, a plena consciência da novidade cristã. Aqui, o símbolo central da história da salvação – o cordeiro pascal – é identificado em Jesus, chamado precisamente “o nosso cordeiro pascal”.

A Páscoa hebraica, memorial da libertação da escravidão do Egito, previa anualmente o rito da imolação do cordeiro, um cordeiro por família, segundo a prescrição de Moisés. Na sua paixão e morte, Jesus revela-e como o Cordeiro de Deus “imolado” na cruz para tirar os pecados do mundo. Foi morto precisamente na hora em que era costume imolar os cordeiros no Templo de Jerusalém. O sentido deste seu sacrifício tinha-o antecipado Ele mesmo durante a Última Ceia, substituindo-Se – sob os sinais do pão e do vinho – aos alimentos rituais da refeição na Páscoa hebraica. Podemos assim afirmar com verdade que Jesus levou a cumprimento a tradição da antiga Páscoa e transformou-a na sua Páscoa.

A partir deste novo significado da festa pascal, compreende-se também a interpretação dos “ázimos” dada por Paulo. O Apóstolo refere-se a um antigo costume hebraico, segundo o qual, por ocasião da Páscoa, era preciso eliminar de casa todo e qualquer resto de pão fermentado. Por um lado, isto constituía uma recordação do que tinha acontecido aos seus antepassados no momento da fuga do Egito: saindo à pressa do país, tinham levado consigo apenas fogaças não fermentadas. Mas, por outro, “os ázimos” eram símbolo de purificação: eliminar o que era velho para dar espaço ao novo.

Agora, explica Paulo, também esta antiga tradição adquire um sentido novo, precisamente a partir do no “êxodo” que é a passagem de Jesus da morte à vida eterna. E dado que Cristo, como verdadeiro Cordeiro, sacrificou-Se por nós, também nós, seus discípulos – graças a Ele e por meio d’Ele -, podemos e devemos ser “nova massa”, “pães ázimos”, livres de qualquer resíduo do velho fermento do pecado: nada de malicia ou perversidade no nosso coração (Cf. Papa Bento XVI, homilia no dia da Páscoa, 2009)

Diocese de Limeira

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