O Evangelho de Mateus situa-se em uma parte maior (13,53-18,35),
que culmina com o discurso eclesiológico de Jesus sobre a comunidade de seus
seguidores e seguidoras. Após o relato da profissão de fé de Pedro (16,13-20),
segue-se o anúncio da morte e ressurreição de Cristo, o Messias Servo, e a
expressão feita aos discípulos para segui-lo no caminho até a cruz (16,21-28).
Jesus pergunta aos discípulos a opinião do povo e deles mesmos a
respeito de sua identidade. A atuação libertadora de Jesus faz o povo lembrar
grandes profetas do passado. Havia a esperança do retorno de Elias como
precursor do Messias (cf. Ml 3,23-24). Herodes Antipas associou a missão de
Jesus a João Batista ressuscitado dos mortos (14,2). Jeremias, o profeta
sofredor por excelência, aponta para a paixão de Jesus. Revelado no batismo
como o Filho amado do Pai, Jesus “cumpre toda a justiça” (3,15), realizando as
expectativas proféticas.
Os discípulos, que haviam acompanhado o ministério de Jesus, são
interpelados a responder à questão essencial que os identifica no caminho do
seguimento: “E vós, dizeis que eu sou? ” (cf. 16,15). A resposta de Pedro, dada
em nome dos discípulos, expressa a adesão existencial a Jesus como “o Cristo, o
Filho do Deus vivo” (16,16). O termo hebraico “Messias” é traduzido para o
grego como “Christos”, ambas as palavras significam Ungido.
Na profissão de Pedro, ressoa a fé da comunidade cristã
primitiva que, iluminada pela ressurreição de Jesus e inspirada pela ação do
Espírito Santo, testemunha Jesus como o Cristo e Filho de Deus (cf. 1,1.16;
3,17; 14,33; 27,54). A experiência de adesão leva a reconhecer que Jesus
é Ungido de Deus, Messias Servo que manifesta a Boa Noticia do Reino aos
oprimidos (115; cf. Is 61,1). A comunidade experimenta Jesus “vivo” em seu meio
como o Emanuel, o Deus conosco (cf. 1,23; 28,20; cf. 18,20).
Os que reconhecem e testemunham a verdadeira identidade de
Cristo, como Pedro, são felizes, bem-aventurados. Pedro, como pedra, deve ser fundamento
para a comunidade eclesial, que está se formando ao redor de Jesus e de sua
Palavra e ação. O termo gregoEkklesia,
“Igreja”, ocorre em 16,18 e 18,17 e designa especialmente “assembléia do povo
de Deus”.
As forças opostas ao Reino de Deus não prevalecerão contra a
comunidade, construída sobre a pedra angular, que é Cristo. A “administração
das chaves do Reino dos Céus” (16,19) realça o compromisso a serviço do projeto
de Deus: cooperar no crescimento do Reino de Deus, instaurado por Jesus, é missão
confiada a Pedro e a toda a comunidade cristã (18,18).
A leitura dos Atos dos Apóstolos refere-se ao episódio da prisão
e libertação de Pedro. As perseguições, por causa da Boa-Nova do reino de Deus,
começaram com Jesus e agora continuam na vida de seus perseguidores. Estamos
por volta do ano 44, quando Tiago, filho de Zebedeu, que pertencia ao grupo dos
doze apóstolos, foi morto por ordem de Herodes Agripa I, neto do famoso
Herodes, o Grande.
Pedro é aprisionado na proximidade da Páscoa (12,1-4), revivendo
o destino de Jesus (cf. Lc 22,1). Ele “estava dormindo”, quando o anjo “o
despertou” (12,6-7). Esses verbos remetem especialmente à morte e ressurreição
de Jesus. A Ação de Deus, manifestada na Páscoa de Jesus, liberta Pedro por
meio do “anjo” como libertou os israelitas do Egito. Enquanto Pedro era
libertado, a comunidade estava reunida em oração (12,5-12).
O Salmo 33(34) é uma oração pessoal de ação de graças ao Senhor
que liberta aqueles que buscam o refugio em sua bondade. O “anjo do Senhor
acampa ao redor dos que o temem”, comprometidos com seu projeto de justiça e
vida plena para todos.
A leitura da Segunda Carta a Timóteo apresenta o ensinamento e o
testemunho de Paulo, como um testamento deixado às comunidades cristãs. Ele
realizou o ministério com fidelidade: “Combati o bom combate, terminei a
corrida, guardei a fé” (4,7). Por isso, aguarda com confiança o encontro
definitivo com o Senhor. A entrega total de sua vida é comparada com as
libações, onde se derramavam vinho, água ou azeite sobre as vítimas (cf. Fl
2,17).
Paulo em meio aos sofrimentos e às perseguições experimentou o
abandono de todos, como Jesus na horta da paixão (cf. Mt 26,31.56). No entanto
cheio de confiança no Senhor, ele completou a isso entre os gentios em
circunstâncias adversas: “a Palavra tinha de ser ouvida por todas as nações”
(cf. 4,17). A esperança tornou-se motivo de alegria e consolo diante das
tribulações por causa do Evangelho.
Diocese de Limeira
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