A virtude da temperança

Uma rápida consulta ao dicionário nos revela que a virtude da temperança tem algo a ver com a moderação na comida, na bebida e no sexo.

Santo Agostinho (354-430) recorda que comida, bebida e sexo são realidades que alimentam a vida humana e possibilitam tanto a sobrevivência do indivíduo (comida e bebida) como a sobrevivência da espécie humana como um todo (sexo).

Veja, no entanto, que estranho: são exatamente essas forças de vida que podem gerar a desordem que nos leva à morte. Por isso, as desordens que entregam o homem ao prazer da comida e da bebida (gula) e aos deleites do sexo (luxúria) parecem ser mais potentes que todas as outras. A gula e a luxúria conseguem desestruturar mais que as outras doenças. Ou seja, curiosamente, parece que, no centro da própria vida do homem, existe algo que pode levá-lo à morte.

Insistimos nesta ideia para que não passe despercebida, pois é muito importante. O prazer da bebida e da comida atua na conservação do indivíduo. Se alguém deixar de comer, certamente morrerá. Algo análogo acontece com o deleite sexual no âmbito da conservação da espécie. Se toda a humanidade decidisse parar de manter relações sexuais, a espécie humana deixaria de existir. Ora, são exatamente essas tendências de conservação do indivíduo e da espécie humana, criadas por Deus, que podem se desordenar a ponto de nos levar à morte.

Por isso, o vício da gula não é uma entidade com existência própria, como se fosse um parasita a ser arrancado ou um demônio a ser expulso. Se fosse assim, a temperança poderia ser alcançada com um inibidor de apetite ou uma cirurgia estomacal. Mas a medicina atual já comprovou que o problema não está no corpo. Cirurgias e medicamentos podem auxiliar, mas nada substituirá a virtude da temperança.

Nenhum dom, nenhuma energia dada por Deus pode ser desprezada, mas sim ordenada, direcionada para Ele. A castração de Orígenes jamais foi aprovada pela Igreja (e também não resolveu seus problemas sexuais; porém, quando descobriu isso, já era tarde demais). Extirpar as energias que usamos para pecar não é uma realidade possível nem desejável, pois as tendências que mais podem perturbar a alma são exatamente as que estão no centro da vida humana.

Retomando a comparação feita com um carro, poderíamos dizer o seguinte: o problema dos desastres de automóvel não será resolvido com a retirada do motor do veículo, esvaziando-lhe o tanque ou proibindo o motorista de usar o pedal do acelerador, pois é próprio da natureza do carro produzir movimento, energia cinética. O problema só poderá ser resolvido satisfatoriamente se esta energia for limitada pelo frio e direcionada pelo volante.

Este é o tipo de ordenamento proposto pela temperança. Trata-se de um “tempero”, de uma ordem dada às energias de vida que recebemos de Deus. Ao temperar os alimentos, o bom cozinheiro sabe a medida certa e a forma de usar cada um dos condimentos. Precisamos aprender a usar os temperos da vida, para que ela não perca o sabor.


Padre Paulo Ricardo

2º Domingo de Páscoa

A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos sublinha que o encontro com Cristo ressuscitado acontece na comunidade de irmãos e irmãs. A comunidade ideal está centrada na comunhão fraterna (koinonia), na escuta da palavra, na fração do pão, memorial da ceia do Senhor e nas orações.

A vida nova de comunhão com Jesus manifesta-se no compromisso solidário com os irmãos: “Todos os que abraçavam a fé, viviam unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um”.

O testemunho da vida de Cristo, doada totalmente por amor, fortalece a confiança na presença de Deus e na manifestação da salvação. O louvor comunitário e a comunhão fraterna, a alegria e a simplicidade revelam a eficácia da missão. O estilo alegre de vida, no seguimento a Jesus e no serviço ao reino, interpela todo o povo e assegura o crescimento contínuo da comunidade: “A cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas”, que aderiam à sua proposta salvífica.

A segunda leitura da primeira carta de Pedro começa com um pequeno hino litúrgico, que acentua a salvação realizada pelo Pai através do Filho. Bendito seja o Pai, que em sua grande misericórdia e “pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, nos fez nascer de novo para uma esperança, alicerçados na promessa da salvação definitiva, da vida plena em Deus.

O exemplo de Cristo, que passou pela paixão e morte para chegar à glória da ressurreição, impulsiona o testemunho da fé com alegria, em meio ao sofrimento e às provações. A imagem do ouro que, purificado pelo fogo, manifesta todo o seu esplendor, ilustra o caminho existencial de transformação pela ação do Espírito até a identificação com Jesus ressuscitado.

A adesão ao Senhor, na esperança e no amor solidário, torna-se “fonte de alegria inefável e gloriosa”, pois proporciona experimentar, desde já, a vida nova de ressuscitados.

A leitura do evangelho de João começa com a manifestação de Jesus ressuscitado aos discípulos, na tarde do mesmo dia da ressurreição. “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana”, o Ressuscitado se faz presente nomeio dos discípulos reunidos com as portas fechadas por medo do judeus.

Após a crucificação do Mestre Jesus, os discípulos estavam com medo, fechados. No final do primeiro século, época em que o evangelho foi escrito, os seguidores de Cristo também estavam com medo, por causa das hostilidades e das perseguições.

O Ressuscitado oferece a paz, que transforma os discípulos e infunde confiança: “Jesus entrou e pôs-se nomeio deles. Disse: a paz esteja convosco”. Conforme havia prometido, Jesus transmite a verdadeira paz, dom de sua entrega por amor. Os sinais da paixão “nas mãos e no lado” revelam sua doação até a cruz e levam os discípulos a reconhecerem sua presença viva no meio deles. “Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor” o Ressuscitado.

A paz do Ressuscitado é a plenitude da salvação, que confirma os discípulos na missão libertadora: “Como o Pai me enviou também eu vos envio” . Os discípulos são enviados para anunciarem a alegria e a paz, dádivas do Ressuscitado. Eles são renovados, investidos com o Espírito Santo, com o sopro da vida nova de Cristo ressuscitado.

Em Gn 2,7, Deus soprou sobre o ser humano, infundindo-lhe o dom da vida divina, que o tornou um ser vivente. A força do Espírito torna os discípulos instrumentos de paz e de reconciliação. Portadores da misericórdia e do perdão de Jesus: “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados”.

“Oito dias depois”, Jesus revela novamente sua presença de paz no meio da comunidade reunida, para celebrar o memorial de sua Páscoa. Tomé, que era um dos Doze, representa as dificuldades dos discípulos em crer na ressurreição de Jesus. A insistência de Tomé, em comprovar as marcas da paixão, mostra que a fé em Cristo ressuscitado brota de sua doação total.

A aclamação litúrgica: “Meu Senhor e meu Deus” expressa a fé da comunidade em Jesus crucificado/exaltado como Senhor e Deus. É a profissão de fé de quem encontra o Senhor no caminho do discipulado.

Jesus proclama “bem-aventurados os que não viram e creram”, os que crêem e vivem conforme seus ensinamentos. O encontro com o Senhor, na comunidade que se reúne para celebrar a memória de sua vida, morte e ressurreição, leva ao testemunho da fé, como os primeiros discípulos e discípulas.


A ressurreição de Jesus é o grande sinal de amor, que plenifica os demais, realizados ao longo de seu ministério. Os sinais que Jesus, o enviado de Deus, realizou foram testemunhados e escritos, para levar os seguidores de todos os tempos à adesão da fé e à vida, plena em seu nome. O caminho da fé em Cristo ressuscitado é a fonte de vida eterna, que torna possível um mundo novo, novos céus e nova terra.

Diocese de Limeira

Homens de verdade expressam poder e misericórdia

Sei que muitos de nós, homens, temos tendência para ser mais práticos, para buscar as soluções dos problemas em vez de nos envolvermos neles e falar deles. Às vezes, entramos em nossa 'caixinha do nada' para sobreviver. Sim, 'caixa do nada'. “Ei, o que você está pensando?” “Nada”. “Te fiz algo?” “Nada”. Nada é nada mesmo. Isso nos faz viver a vida de maneira mais livre, mas que nosso 'segredo do nada' não nos impeça de nos envolvermos no que vale a pena! Homens de verdade expressam poder e misericórdia. Coragem e emoção!

Fico impressionado com o jeito de Jesus. Ele era amigo, encorajava e ensinava os discípulos, era um Pai para eles e para o povo. Jesus, às vezes, ria com eles, ia para as festas com a galera, mas também batia o pé em questões em que até mesmo os discípulos mais próximos discordavam. Era firme quando preciso e sabia se colocar em cada uma das situações.

Gostamos de proteger o que nos é sagrado e importante, especialmente as mulheres. Temos um desejo de doar nossas vidas a ponto de doer! Basta olhar para a maioria dos heróis que foram criados pela nossa imaginação, pela literatura e pelos filmes. Eles dão a vida por amor. Como fazemos para doar nossa vida à nossa maneira? Lembro aqui o que o tio do Homem Aranha disse a ele, no primeiro filme, antes de ser assassinado: “Grandes poderes requerem grandes responsabilidades”. É isso mesmo! O “poder” que nos foi dado de sermos homens tem como anexo, “de quebra”, grandes responsabilidades. Tá a fim de assumi-las?

Lembre-se de quando era criança e brincava com seu carrinho, que sempre o transportava para outras realidades. Com certeza, você o pegava e imaginava que estava levando alguém dentro dele, não é? Meu primeiro carrinho foi uma ambulância que acendia as luzes da frente e fazia o barulho da sirene. Sempre pensava: “Saia, saia da frente que preciso chegar até o hospital”. Esse desejo de proteção e de responsabilidade é parte de nós homens. Mesmo que tenhamos nos esquecido dela, essa sensação está guardada em nossa lembrança.

Lá, no fundo do coração, a mulher quer mesmo um homem que a faça feliz e cuide dela. O mundo vive nos dizendo para curtir a vida agora e nos preocuparmos com coisas sérias depois. Mas nosso coração não funciona dessa maneira. Cada pedacinho de masculinidade em nós protesta contra isso! Deus nos criou para sermos guerreiros, para lutarmos pelo que é certo e pelo verdadeiro amor. Isso não é um sonho.

Lembro-me da cena do filme 'Gigantes de Aço', no qual o Charlie entrega seu filho, Max, aos cuidados de sua cunhada por não ter condições e disposição para educá-lo. Estava literalmente fugindo da luta! Fica bem claro que o garoto já o amava e queria ficar com ele. O pai (Charlie) então, indignado, diz: “Você sabe que não consigo cuidar de você, não sou o que você merece. O que quer que eu faça?”. Nessa hora, com os olhos cheios de lágrimas, Max fala algo que tirou meu fôlego: “Eu só queria que você lutasse por mim”.

Somos homens livres, racionais, com um pé na terra e outro na eternidade; temos inteligência para influenciar, direcionar e formar este mundo, fazendo-o valer a pena. Qual sua resposta diante dessa proposta? Qual a sua luta? Por onde recomeçar?

Nossa masculinidade não está encerrada em nosso corpo sarado e viril, mas sim em todo nosso ser. Não dá para pensar que o homem é aquele 'ogro' que não sabe ser corajoso e, ao mesmo tempo, acolhedor. Não é irônico que, um dia, o mundo tenha sido convidado a escolher a sua resposta a partir dessas duas visões de homem?

No dia do julgamento de Jesus, diante de Pilatos, foram apresentados dois modelos de homem: Jesus, o revolucionário do amor, homem de coragem e emoção, leão e cordeiro; e Barrabás, um revolucionário e lutador que roubou por uma causa pessoal. “Bar Abbas” em hebraico significa “o filho do pai”.

E quem o povo escolheu?

Antes de o povo dar a resposta, Pilatos tentou mostrar quem, de fato, era homem verdadeiro: Ecce Homo! Eis o Homem! Foi o que ele disse! Mas não escolheram Jesus, ao contrário, O mataram!

Tentei mostrar o modelo de homem no qual precisamos nos espalhar. Mas a resposta é sua, homem! Então, qual modelo você irá seguir? Dentro de você, quem ficará vivo?Jesus ou Barrabás?

Adriano Gonçalves

Membro da Comunidade Canção Nova

Programação - Novenário de Maio/2014



A Palavra de Deus ilumina o nosso caminhar e a nossa vida!

Não basta conhecer a Palavra, é preciso entendê-la. Nós precisamos de um auxílio do alto para que possamos entender a Palavra de Deus para melhor vivê-La em nossa vida!

”Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, e lhes disse: ‘Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia”‘ (Lucas 24, 45-46).

Jesus Ressuscitado se manifestou diversas vezes, em diversas ocasiões, aos Seus discípulos para fazê-los se recordarem de tudo aquilo que Ele já havia anunciado a eles antes da Sua Morte, durante o tempo em que caminhou com eles.

Sabem, por mais que escutemos a Palavra de Deus, por mais que Deus fale ao nosso coração, nossa mente, muitas vezes, fica fechada, esquecida. Nós, muitas vezes, somos movidos por um entusiasmo momentâneo; achamos que o que experimentamos em determinado momento foi maravailhoso e o que escutamos na Missa foi muito bom. Mas quem é que se recorda e quem é que grava no coração aquilo que Deus está dizendo para nós?

Nós, muitas vezes, temos uma participação muito passiva e estática na compreensão e na participação daquilo que é o mistério de Deus. Nós escutamos aquilo que Deus fala a nós e nos entusiasmamos, mas depois tudo cai no esquecimento. Por isso, muitas vezes, andamos como esses discípulos do Evangelho: de cabeça baixa, sem entender o que se passa conosco e por que estamos sofrendo tudo isso. Mas se tivéssemos, no depósito do nosso coração, guardado e meditado sobre as palavras que Deus lança ao nosso coração, nós iríamos exorcizar esses demônios, que nos atormentam, deixando o nosso coração triste, desanimado, sem perspectiva de vida, sem esperança, e nunca nos acharíamos os maiores sofredores da Terra. Porque a Palavra de Deus nos dá uma perspectiva nova, ilumina o nosso caminhar e a nossa vida.

Jesus Ressuscitado aparece a Seus discípulos não só para recordá-los dos ensinamentos das Sagradas Escrituras, mas também a fim de abrir a inteligência deles para que possam também entender, compreender e tomar posse da Palavra de Deus.

Permitamos, hoje, que Jesus abra a nossa inteligência; peçamos realmente que o Espírito Santo venha em socorro à nossa fraqueza, para que possamos abrir a nossa mente a fim de entendermos o que Deus quer de nós, o que Ele nos ensina e nos impele a viver, para que tenhamos a luz do alto, para que sejamos testemunhas, em toda a Terra, em todos os lugares em que estamos, da ressurreição gloriosa de Jesus.

Não basta conhecer a Palavra, é preciso entendê-la. Nós precisamos do auxílio do alto para que possamos compreender a Palavra de Deus para melhor vivê-la em nossa vida!

Uma feliz e santa Páscoa para você!

Padre Roger Araújo

Sacerdote da Comunidade Canção Nova

Santos por amor

Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste

Nos primeiros séculos, os que tinham sido batizados, na Vigília Pascal, vestiam-se de branco até o segundo domingo da Páscoa, oferecendo a todos o testemunho externo da vida nova recebida no sacramento. Neste fim de semana, é toda a Igreja, vestida de gala, que deseja oferecer ao mundo inteiro a roupa da alegria, chamada santidade, com a canonização de João XXIII e João Paulo II, duas pérolas da coroa da Igreja em nosso tempo, cujos exemplos são oferecidos como referência para a maravilhosa aventura cristã. São dois contemporâneos, com os quais muitos de nós compartilharam diálogo e convivência. Seu modo de viver está bem ao nosso alcance, suas palavras e ensinamentos ecoaram pelo mundo pelos meios de comunicação de nossa época. Mostram que a santidade é atual e possível.

Os santos são homens e mulheres que levaram a sério a graça do batismo e decidiram viver não para si, mas para Deus e para o serviço dos outros. Não programaram ser canonizados, mas quiseram ser bons cristãos. João XXIII, em seu diário, descreveu com simplicidade e profundidade o seu dia a dia, seus roteiros de oração e meditação, suas decisões cotidianas de perdão, alegria, seriedade no seguimento de Nosso Senhor. João Paulo II, que viveu, na infância e na juventude, capítulos dolorosos provocados pelas ideologias e autoritarismos do século XX, conduziu a Igreja à virada do milênio e nos brindou com o convite à santidade: "Se o batismo é um verdadeiro ingresso à santidade de Deus, por meio da inserção em Cristo e da habitação do Seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: 'Queres receber o Batismo?' significa, ao mesmo tempo, pedir-lhe: 'Queres fazer-te santo?'. Significa colocar, na sua estrada, o radicalismo do Sermão da Montanha: 'Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste' (Mt 5,48).

Este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco vendo nele um caminho extraordinário, percorrido apenas por algum gênio da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor, de novo, a todos, com convicção, esta medida alta da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção". (Novo millenio ineunte, 31).

João XXIII viveu as duras realidades das duas guerras mundiais e veio a suceder, visto como eventual Papa "de transição", o grande Papa Pio XII. Como alguém que trata de amenidades, fez saber aos que com ele trabalhavam, no início de seu pontificado, que convocaria um Concílio Ecumênico. Dali para frente, provocou na Igreja a oração e a preparação efetiva para o que o próprio Papa chamou de nova primavera, desejando uma nova estação de abertura e diálogo com todas as realidades de nosso tempo. Os cinco anos de pontificado valeram séculos! Mater et Magistra e Pacem in terris foram duas encíclicas que firmaram princípios e práticas para a ação social da Igreja. Abriu e conduziu a primeira sessão de trabalhos do Concílio Vaticano II, mostrou ao mundo a face da bondade, abriu sorrisos, foi ao encontro dos mais sofredores, pintou de bom humor o rosto da Igreja! Viveu a dura experiência de uma enfermidade dolorosa, com o câncer que o levou à morte, parecido com tanta gente de nosso tempo. Sim, foi homem, Papa, irmão, sorriso de Deus para sua época. No próximo domingo, elevado definitivamente à glória dos altares, resplandece como presente de Deus à Igreja e à humanidade.

De João Paulo II nunca se falará suficientemente. Um magistério pontilhado pela sensibilidade inusitada a todas as situações humanas e desafios a serem enfrentados pela Igreja. Uma presença universal efetiva, indo até os confins da terra para levar a Boa Nova do Evangelho. Aquele que nas lides da Polônia havia enfrentado nazistas e comunistas, corajoso na liderança dos católicos para se manterem fiéis à fé cristã, tesouro maior de sua nação, foi conduzido ao sólio de Pedro, em 1978, permanecendo à frente da Igreja até o dia 2 de abril de 2005, na véspera Festa da Divina Misericórdia. No próprio Domingo da Misericórdia, será, agora, canonizado.

Quantos adultos, jovens e crianças só tiveram esta figura de Papa em seu horizonte de Igreja, até que o Senhor o chamou para a Sua Páscoa pessoal. Naquele início de noite de sua partida, desejoso de estar com o Senhor, tinha o coração agradecido especialmente aos jovens, aos quais tantas vezes se dirigiu e, ali, se encontravam bem perto dele. Apagou-se como uma chama, deu tudo de si à Igreja e ao mundo. Em seus funerais, uma faixa emergia no meio da multidão - "Santo subito" - pedindo que fosse logo aclamado santo. Seu sucessor, o grande Bento XVI, teve a alegria de beatificá-lo, numa apoteótica afluência de gente do mundo inteiro, no dia 1º de maio de 2011. Seus ensinamentos continuam a ser conhecidos e aprofundados na Igreja e no mundo. O convite feito, no início de seu pontificado, continua atual e provocante: "Não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o seu poder! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem 'o que é que está dentro do homem'. Somente Ele o sabe!" (Homilia da Missa de inauguração do Pontificado de João Paulo II, 22 de outubro de 1978)

Agora, Papa Francisco canoniza os dois Papas. A Igreja oferece, na Festa da Divina Misericórdia, dois presentes de amor. Fizerem-se santos pela Igreja e pela humanidade, foram homens de nosso tempo, amaram a Igreja e se entregaram por ela. Louvado seja o Senhor pela história, o exemplo e a intercessão dos dois heróis de nosso tempo.

São João XXIII, rogai por nós! São João Paulo II, rogai por nós!
Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo de Belém - PA

Domingo da Ressurreição

A 1ª Leitura dos Atos dos Apóstolos, acentua que, no mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus aboliu toda a “discriminação entre as pessoas”. A boa Nova da paz, manifestada em Cristo, destina-se a todos os povos, Jesus de Nazaré, ungido por Deus com o Espírito Santo, “andou fazendo o bem e curando todos os que estavam dominados pelo diabo”. Seu ministério começou na Galileia e terminou em Jerusalém através de sua morte salvífica por todos.

“Mas Deus o ressuscitou e o constituiu juiz dos vivos e dos mortos”, fazendo renascer a esperança dos que crêem em seu nome. O itinerário da fé conduz a libertação e ao seguimento de Cristo, manifestado no testemunho de suas palavras e ações salvíficas. Os discípulos anunciam a mensagem libertadora da ressurreição de Jesus, acompanhada de gestos misericordiosos de  justiça e fraternidade.

A 2ª Leitura da carta aos Colossenses impele a viver como ressuscitados, seguindo o caminho da vida nova em Cristo: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto”. Pelo Batismo, participamos da ressurreição, da vitória de Cristo sobre a morte. Renascidos para uma vida nova, assumimos o compromisso de viver conforme seu projeto salvífico: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vivem em mim”.

A vida nova de comunhão com Jesus ressuscitado, iniciada no Batismo, se manifestará plenamente na glória com ele junto ao Pai. Enquanto caminhamos com fé e esperança, testemunhamos nossa experiência de ressuscitados através do amor e da entrega da vida. O texto seguinte, que descreve um conjunto de exigências práticas no caminho do discipulado, convida a revestir-se do amor que é vinculo da perfeição.

A proposta alternativa da leitura da primeira carta aos Coríntios sublinha, igualmente, a novidade da vida recebida no Batismo. Quem está em Cristo celebra a Páscoa “com os pães ázimos da sinceridade e da verdade. Cristo é o verdadeiro cordeiro pascal que doou a vida pela salvação de todos, indicando o caminho da vida nova, sem maldade e opressão.

A leitura do evangelho de João começa com a atitude de Maria de Madalena, que se dirige ao túmulo de Jesus, “bem de madrugada, quando ainda estava escuro”. É o primeiro dia da semana, que expressa o sentido teológico da nova criação, da Páscoa definitiva que nasce a partir da doação total de Jesus. Ao ver o tumulo vazio, já que a pedra fora removida, ela volta correndo para avisar Pedro e o discípulo amado. Como representante da comunidade, Maria Madalena afirma: “Tiraram o Senhor do tumulo e não sabemos onde o colocaram”. Essa notícia leva os dois discípulos a correrem para o sepulcro.

“Senhor”, título atribuído a Jesus após a Páscoa, expressa a fé da nova comunidade. Em meio às perseguições e mortes, que estava enfrentando no final do primeiro século, a comunidade renasce pela ação criadora e vivificadora do Espírito de Cristo ressuscitado. A fé na ressurreição do Senhor é assimilada ao longo do caminho.

As dificuldades em crer, diante do mistério da morte e da humilhação da cruz, são superadas por quem corre ao encontro de Jesus e vive em sintonia com seu projeto. O amor solidário leva a reconhecer, nos sinais da ausência do corpo de Jesus: túmulo vazio e faixas mortuárias no chão, a presença viva do Ressuscitado. O discípulo amado, que “viu e creu”, expressa a adesão da fé, o caminho ideal do discipulado.

As testemunhas primitivas, guiadas pelo amor no itinerário da fé, encontram na Escritura, o sentido da morte salvífica de Cristo e de sua ressurreição: “Eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”. A ressurreição de Jesus, atestada pela Escritura, proporciona acreditar sem a necessidade de ver.

Na continuação do relato, Maria Madalena reconhece o Senhor pela voz, pela escuta de sua palavra: ”Jesus falou: Maria! Ela voltou-se e exclamou: Rabbuni”, que em hebraico quer dizer Mestre. Maria Madalena faz a experiência do encontro com o Ressuscitado, que a chama pelo nome. Ela expressa sua adesão a Jesus ressuscitado através doa núncio da Boa Notícia aos discípulos: “Eu vi o Senhor!”. Como ela, os que fazem a experiência do encontro com o Senhor tornam-se missionários, anunciadores de sua mensagem a todos os povos.

A leitura de evangelho de Lucas narra o encontro do Ressuscitado com os discípulos de Emaús. Faz uma releitura da história de Jesus à luz das Escrituras, oração, fração do pão, anúncio do encontro com o Ressuscitado. Emaús reflete também a dispersão dos discípulos, a desilusão diante da morte humilhante de Messias. Após paixão e a morte de Jesus, seus seguidores enfrentam dificuldades, perseguições, decepções na caminhada. Mas, iluminados pelas Escrituras, compreendem o sentido da morte salvífica de Jesus e retomam o caminho, a missão.

Os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram, Jesus, quando ele “tomou o pão, pronunciou a benção, partiu-o e deu a eles”. O Encontro com Jesus ressuscitado, que se manifesta no caminho da vida, na palavra, no partir o pão, leva a reconhecer sua presença viva e a recriar a comunidade. Os dois discípulos retornam a Jerusalém e testemunham a fé na ressurreição, na comunidade reunida: “Realmente, o Senhor ressuscitou!”. A recordação das palavras e ações de Jesus, a memória de sua vida doada totalmente por amor fortalece a missão dos discípulos, o anúncio da Boa-Nova a todos os povos.


Diocese de Limeira

O tesouro que o mundo procura

A juventude é a fase em que mais sofremos as investidas do inimigo de Deus, quando enfrentamos as maiores batalhas e temos sentimentos à flor da pele. É uma guerra na qual nos machucamos e ficamos, muitas vezes, mutilados. É difícil ir para a guerra, mas não ir significa não conhecer o sabor da vitória.

Quem não luta não tem muitos problemas nem dificuldades, mas também não alcança a vitória. É assim que acontece com alguém que está em pecado: como um porco, lambuza-se todo e se mistura tanto à lama que não quer mais sair dela. Mesmo sendo lavado, o porco retorna à lama. Quem não luta contra o pecado torna-se semelhante a esse animal, acostumado à vida do chiqueiro. Muitas vezes, permanecemos no pecado e nas consequências dele, porque não lutamos.

Há uma história sobre um homem e seu baú cheio de tesouros, os quais ele colecionava e comercializava. Além do baú, possuía tecidos, tapetes, terras, gado, cavalos, casas... Enfim, era muito rico. Ele viajava bastante e sempre comprava algo que não possuía. Assim foi ajuntando tesouros, até que, um dia, numa das viagens, deparou-se com uma pérola negra e se encantou por ela. Era a única no mundo!

Em nenhum dos lugares pelos quais já havia passado havia aquele tesouro. Quis possuí-la e foi até o dono da pérola. Pelo fato de não haver nada parecido no mundo inteiro, o proprietário tinha todo o direito de pedir o valor que quisesse, e foi o que aconteceu. Ele pediu um preço tão alto, que era quase impossível alguém possuir todo aquele dinheiro. O comerciante achou o preço exorbitante, mas, como um bom negociante, fez o cálculo de todos os seus bens, incluindo a roupa do corpo, e percebeu que teria o dinheiro suficiente para comprá-la. Voltou para casa, juntou tudo, vendeu, comprou a pérola e saiu vestido com o mínimo necessário para não estar nu. Olhava o bem recém-adquirido sem ter para onde ir, pois tinha vendido a casa e tudo o que possuía. Achou, então, uma árvore e sentou-se à sombra, contemplando o seu tesouro. Ninguém era mais rico do que aquele homem, mas também ninguém era mais pobre do que ele. Nada custava mais do que a sua pérola e ele era feliz. Havia encontrado o que sempre buscara. Aquele homem acumulou riquezas por toda a vida, achando que nelas seria feliz, até encontrar a pérola. E, quando a encontrou, teve de se desfazer de tudo para comprá-la.

Nossa situação é parecida: não temos carneiros, tesouros, contas bancárias "gordas" nem cheque especial; muitos não têm carro nem cartão de crédito. Mas, ao longo da vida, adquirimos falsos tesouros como o pecado, por exemplo. Ele nos impossibilitou de buscar o tesouro da felicidade e da paz, que é o próprio Deus. Jesus é a paz na agitação da vida, a alegria verdadeira e plena.

Muitas pessoas procuram esse Tesouro em lugares impróprios e não O encontram. Sabemos que Cristo está em todas as pessoas, mas não em todas as situações. Existem situações em que somente o diabo está. E é justamente aí que, ao longo da vida, fomos buscar a felicidade: numa zona de prostituição, na boca de fumo, numa butique gastando além do que podíamos e ficando endividados. Buscamos a felicidade na violência, na loucura, na moda, na novela, na traição, em situações em que Deus não está, e acumulamos misérias dentro de nós.

Hoje, alegremo-nos, pois nossa busca acabou! Até mesmo o que temos de material, adquirido com muito custo e trabalho, passa a ter mais valor, mais sentido e mais gosto, porque encontramos o grande Tesouro, que é o próprio Deus. 


Retirado do livro: “Sementes de uma nova geração”

A espiritualidade da Sexta-feira Santa

Neste dia, que os antigos chamavam de “Sexta-feira Maior”, quando celebramos a Paixão e Morte de Jesus, o silêncio, o jejum e a oração devem marcar este momento. Ao contrário do que muitos pensam, a Paixão não deve ser vivida em clima de luto, mas de profundo respeito e meditação diante da morte do Senhor que, morrendo, foi vitorioso e trouxe a salvação para todos, ressurgindo para a vida eterna.

É preciso manter um “silêncio interior” aliado ao jejum e à abstinência de carne. Deve ser um dia de meditação, de contemplação do amor de Deus que nos “deu o Seu Filho único para que quem n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). É um dia em que as diversões devem ser suspensas, os prazeres, mesmo que legítimos, devem ser evitados.

Uma prática de piedade valiosa é meditar a dolorosa Paixão do Senhor, se possível diante do sacrário, na igreja, usando a narração que os quatro evangelistas fizeram.

Outra possibilidade será usar um livro para meditação como “A Paixão de Cristo segundo o cirurgião”, no qual o Dr. Pierre Barbet, francês, depois de estudar por mais de vinte anos a Paixão, narra com detalhes o sofrimento de Cristo. Tudo isso deve nos levar a amar profundamente Jesus Crucificado, que se esvaziou totalmente para nos salvar de modo tão terrível. Essa meditação também precisa nos levar à associação com a Paixão do Senhor, no sentido de tomar a decisão de “gastar a vida” pela salvação dos outros. Dar a vida pelos outros, como o Senhor deu a Sua vida por nós. "Amor só se paga com amor", diz São João da Cruz.

A meditação da Paixão do Senhor deve mostrar-nos o quanto é hediondo o pecado. É contemplando o Senhor na cruz, destruído, flagelado, coroado de espinhos, abandonado, caluniado, agonizante até a morte, que entendemos quão terrível é o pecado. Não é sem razão que o Catecismo diz que pecado é “a pior realidade para o mundo, para o pecador e para a Igreja”. É por isso que Cristo veio a este mundo para ser imolado como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Só Ele poderia oferecer à Justiça Divina uma oblação de valor infinito que reparasse todos os pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares.

O ponto alto da Sexta Feira Santa é a celebração das 15 horas, horário em que Jesus foi morto. É a principal cerimônia do dia: a Paixão do Senhor. Ela consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e comunhão eucarística. Nas leituras, meditamos a Paixão do Senhor, narrada pelo evangelista São João (cap. 18), mas também prevista pelos profetas que anunciaram os sofrimentos do Servo de Javé. Isaías (52,13-53) coloca, diante de nossos olhos, “o Homem das dores”, “desprezado como o último dos mortais”, “ferido por causa dos nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes”. Deus morreu por nós em forma humana.

Neste dia, podemos também meditar, com profundidade, as “Sete Palavras de Cristo na Cruz” antes de sua morte. É como um testamento d'Ele:

"Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem"
"Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso"
"Mulher, eis aí o teu filho... Eis aí a tua Mãe"
"Tenho Sede!"
"Eli, Eli, lema sabachtani? - Meus Deus, meus Deus, por que me abandonastes?"
"Tudo está consumado!"
"Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!".

À noite, as paróquias fazem encenações da Paixão de Jesus Cristo com o sermão da descida da cruz; em seguida, há a Procissão do Enterro, levando o esquife com a imagem do Senhor morto. O povo católico gosta dessas celebrações, porque põe o seu coração em união com a Paixão e os sofrimentos do Senhor. Tudo isso nos ajuda na espiritualidade deste dia. Não há como “pagar” ao Senhor o que Ele fez e sofreu por nós; no entanto, celebrar com devoção o Seu sofrimento e morte Lhe agrada e nos faz felizes. Associando-nos, assim, à Paixão do Senhor, colheremos os Seus frutos de salvação.


Felipe Aquino

Novenário em homenagem a Virgem de Fátima!!!

De 04 a 13 de maio, o Santuário vai realizar o Novenário em homenagem a Nossa Senhora de Fátima.

Em Fátima, em 1917, Nossa Senhora pediu com insistência oração, penitência e conversão.

A Igreja, através da nossa paróquia, quando celebramos os 59 anos deste Santuário, nos convida a aprendermos com o Papa Francisco que diz: "Maria, estrela da nova evangelização, ajudai-nos a refulgir com o testemunho de comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres para que a alegria do Evangelho chegue aos confins da Terra".

Venha rezar conosco cada dia da novena em homenagem a Virgem de Fátima para agradecer e celebrar as maravilhas de Deus através da Mãe do seu filho Jesus.

Adquira o seu livrinho para melhor participar deste novenário e rezarmos a Nossa Senhora, por todos nós, pela conversão dos pecadores, pela paz no mundo, pelas famílias, pela ação missionária da Igreja e pela transformação da sociedade.

Pe. Francisco Ivan de Souza
Pároco do Santuário de Fátima

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

As primeiras comunidades cristãs de Jerusalém, movidas pela devoção e pelo desejo de partilhar de perto, com amor, os passos de Jesus no seu caminho de paixão e de glorificação, organizaram, sobretudo a partir do século IV, celebrações especiais em cada lugar onde Jesus tinha vivido seus últimos dias de presença física no meio dos seus discípulos, dias tão decisivos no plano de Deus e para a nossa salvação: da entrada de Jesus em Jerusalém e da última ceia no cenáculo à paixão no horto das oliveiras; da morte no Calvário à sepultura e ressurreição no jardim, até a ascensão na colina perto de Jerusalém.

As celebrações da Semana Santa, porém, não são somente comovidas maneiras de pôr em cena os trágicos eventos dos últimos dias de Jesus em Jerusalém. Elas nos proporcionam a graça de nos mergulhar, com fé, em sua relação de amor com o Pai e conosco, o que nos transforma e salva.

A palavra proclamada e acolhida com fé não fala ao passado, não lembra histórias de outrora, ela continua a se realizar em cada um de nós pela potência do Espírito.

“Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Com esse refrão acompanhamos a procissão até a porta da igreja. A entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, no júbilo e na alegria, é inseparável da proclamação da sua Paixão, centro da liturgia eucarística deste domingo.

A 1ª Leitura do profeta Isaías, que delineia a figura e a missão do Servo do Senhor sofredor, salvado por Deus e por ele escolhido a tornar-se Salvador não somente de Israel, mas de todos os povos, destaca a mesma intrínseca conexão entre sofrimento e salvação.

Na 2ª Leitura, Paulo proclama a mesma mensagem, ao apresentar Cristo como modelo inspirador da nova maneira de viver na comunidade dos discípulos. A comunidade dos filipenses, ainda nova na experiência da fé, vive uma situação de competição e de conflitos entre seus membros. Paulo oferece a eles a única saída, coerente com o evangelho que receberam e que os fez crescer como comunidade de irmãos e irmãs.

Paulo os convida a voltar às origens, à nascente da vida cristã: é a relação estabelecida com Jesus no Batismo e seu exemplo. Jesus, o Verbo de Deus, despiu-se voluntariamente pela humilhação até a morte de cruz, a morte reservada para os escravos, aos quais a sociedade e a lei não reconhecia a dignidade de pessoa humana. Pelo paradoxo do amor do Pai, porém, em razão desta humilhação ele foi glorificado pelo Pai e constituído Senhor e Salvador de todos.

A lógica da Páscoa se torna o sangue divino que corre nas veias do corpo da comunidade, irrigando-a com sua vida. Esta reviravolta nas atitudes interiores e no estilo das relações recíprocas, passando da competição à solidariedade, não é fruto do empenho ético do homem, mas da graça de Deus que orienta em nós a vontade e os comportamentos.

Aqui emerge a graça da Páscoa que nos renova interiormente e nos impele a atuar de maneira coerente com o mistério que estamos celebrando. Nisto consiste a verdadeira “participação ativa, consciente, plena e frutuosa”, à qual temos direto e possibilidade, graças ao nosso Batismo, e que é favorecida pela estrutura ritual das celebrações, renovada pelo Concílio Vaticano II.

No Evangelho, o evangelista Mateus, preocupado em convencer seus conterrâneos sobre a Verdade de Jesus de Nazaré, usou de uma estratégia ao reler as escrituras, apontando de maneira caridosa e paciente, os textos que a ele se referiam facilitando assim a compreensão sobre o conteúdo das leituras desse Domingo de Ramos, que nos introduzem na Semana Santa, onde se celebra o Tríduo Pascal, enfocando a Vida e a morte, a plena realização e o fracasso, as trevas e a Luz, antagonismos presentes não só na Vida Terrena de Jesus, mas na vida de cada Ser Humano, que a partir de então poderá fazer suas escolhas e decidir-se por uma ou por outra, pois Salvação é exatamente isso, conhecer a Verdadeira Luz, a Vida e a Verdade Absoluta que é o próprio Cristo, e deixar-se atrair por ele tomando a decisão de segui-lo, não mais a partir de uma obrigatoriedade Legal de Caráter Religioso, mas a partir de uma experiência real como ocorreu com as Comunidades de Matheus, e o Oficial Romano, sendo este precisamente o convite e o apelo desse evangelho: que as nossas comunidades revejam toda a caminhada e em uma auto afirmação da nossa Fé, redescubramos: Jesus é o nosso Senhor, o Filho de Deus!

O máximo que se pensou sobre Jesus, é que ele fosse um Profeta, tal qual nos atesta a conclusão do relato da sua entrada em Jerusalém, Mateus não engana seus leitores, pois sendo um Profeta renomado, terá o mesmo destino dos demais, sendo ouvido por poucos, rejeitado por muitos, e finalmente esmagado com a morte. Portanto, aquilo que parece ser um momento de glória, pelo menos na visão nacionalista da Nação de Israel, irá redundar em terrível fracasso! Há Glória sim, presente no regozijo de um Homem totalmente novo, Fiel, que com sua encarnação Divinizou a todos e a cada um dos homens, resgatando neles a imagem e semelhança do Deus Criador. Um homem capaz de ter toda firmeza e confiança em Deus,, mesmo diante das contrariedades e provações, em um contexto que caminha para o iminente fracasso, como esse Servo de Iahweh, assumido pelo Profeta Isaías, e que nessa circunstância provoca a queixa orante do Salmista “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes”

Programação da Semana Santa – 2014

 Domingo de Ramos – 13/04/2014
Bênção e Distribuição de Ramos
Missas - 05h00, 06h00, 07h30, 09h00, 10h30 12h00, 14h00, 15h30,17h00, 18h30 e 20h00

 Segunda-Feira 14/04/2014
Missas - 06h30, 12h00 e 17h00
 
 Terça-Feira 15/04/2014
Missas - 06h30, 12h00 e 17h00


 Quarta-Feira – 16/04/2014
    Missas - 06h30, 12h00 e 17h00
    19h30 – Celebração da Reconciliação e Confissões
    
 Quinta-Feira – 17/04/2014 
06h30 – Oficio Divino das Comunidades
08h00 – Missa da Unidade na Catedral
   16h00 - Missa da Ceia do Senhor (Lava-Pés)

 Adoração ao Santíssimo (auditório)
17h às 18h Comissão Pastoral para o Laicato e Comissão Pastoral para Ministérios Ordenados e Vida Consagrada.
18h às 19h Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e  Paz e Comissão para a Cultura Educação e Comunicação Social. 
19h às 20h Comissão Pastoral para Animação Bíblico-Catequética e Comissão Pastoral para a Vida e Família  
20h às 21h Comissão Pastoral para Ação Missionária e Cooperação Intereclesial e Comissão Pastoral para a Liturgia.

  Sexta-Feira – 18/04/2014
07h00 Via-Sacra na Praça Pio IX
15h00 - Celebração da Paixão do Senhor e Procissão do Senhor Morto

  Sábado – 19/04/2014
09h00 - As Dores de Maria e as Palavras de Jesus na Cruz
19h00 - Vigília Pascal – Sábado Santo - Batismos

  Domingo da Ressurreição – 20/04/2014
 Missas 07h00, 09h00, 12h00, 17h00 e 19h00.

5º Domingo do Tempo Comum

Chegamos ao último domingo da Quaresma. Depois destes quarenta dias de profundo jejum, continuada penitência e grande retiro de oração vamos contemplar hoje o tema da Ressurreição e da Vida. Este quinto domingo da Quaresma, pelos antigos chamado de Domingo da Paixão, é ressaltado pelo grande episódio da Ressurreição de Lázaro. Ressurreição de Lázaro que causou ódio das autoridades civis daquele tempo contra Jesus, dando um sinal de como deveria ser a própria ressurreição do Senhor. O episódio de hoje conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A 1ª Leitura fala do tema da ressurreição, com a visão dos ossos revivificados pelo Espírito de Deus. Observamos, na leitura atenta desta perícope, que os ossos revivificados pelo sopro de Deus, explica uma visão precedente: a revivificação dos ossos. A morte serve aqui como figura de Israel, vivendo no Exílio, mais morto do que vivo. A revivificação é o gesto de Deus para reconduzi-lo a sua terra. Em tempos mais recentes, esta visão foi interpretada como a ressurreição dos mortos propriamente, e com razão, porque mais ainda que a volta do exílio, a ressurreição é obra do espírito vivificador de Deus e volta à plena comunhão com o Pai.

A 2ª Leitura, fala do espírito que vivifica, mesmo se o corpo estiver morto; o espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos fará viver até os nossos corpos mortais. Assim, a missa de hoje, abre uma doce perspectiva que sustenta nossa conversão pascal, a partir da ressurreição do Cristo. A esperança no Senhor Ressuscitado que nos chama para a vida plena, para a ressurreição, a vida que não se acaba. O Espírito de Cristo nos faz viver pela justiça e sempre dá a vida aos corpos mortais. Em Romanos 6  que é a oitava leitura da vigília pascal  São Paulo falou da integração do cristo no Mistério da morte e ressurreição de Cristo. Quando o homem só vive de seu próprio Eu, ele é carne, existência humana precária e limitada. Não pode agradar a Deus. Mas com a integração em Cristo, pelo batismo, receber o Espírito, que ressuscitou Cristo dos mortos. Contudo, experimentamos em nós mesmo, que esta transformação ainda não tomou completamente conta de nós. Por isso, nossa fé é também esperança: o Espírito de Deus nos transformará sempre mais, se lhe dermos suficiente espaço.

No Evangelho, Jesus hoje está a caminho de Jerusalém . É a sua última viagem. Em Betânia, que fica distante apenas 3 km de Jerusalém, faz o grande milagre da ressurreição de Lázaro, a doação da plenitude da vida. O próprio Cristo nos anuncia: Eu sou a Ressurreição e a Vida, ligando com a liturgia do domingo precedente: Eu sou a Luz do Mundo, quem me segue não andarás nas trevas, mas terá a Luz da Vida.

No terceiro domingo da Quaresma, no episódio da Samaritana se falou em água viva, em água que jorra para a vida eterna, e o Senhor se apresente como quem é capaz de dar de beber esta água salvadora. No quarto domingo da Quaresma, Jesus se apresentou como a Luz do Mundo. A água e a luz fazem crescer, vivificar os seres vivos. Sem água e sem luz, temos a morte. Por isso, a partir da água e da luz, Jesus reafirma a sua divindade e o seu poder de dar a vida, e a vida plena, que não se acaba. Exatamente, isso, com caridade extrema, foi à atitude de Jesus a ressuscitar Lázaro.

Da morte de Cristo irrompe e nasce a vida plena. Os mortos ouvirão a voz do Cristo e brotarão ressuscitados, porque todo o homem que crer no Senhor não ficará morto para sempre.

Betânia era parada obrigatória para os peregrinos que iam a Jerusalém. Ali eles tomavam banho, se preparavam para entrar em Jerusalém. E não podia ser diferente com Jesus e com os apóstolos. E a parada de Jesus era a carta de Maria, de Marta e de Lázaro, seus amigos íntimos. Mas, qual seria a grande lição do Evangelho deste domingo:  as palavras de Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida. A mesma pergunta de Jesus a Marta é a pergunta que devemos nos fazer hoje: Crês isto? E, também, a resposta de Marta é a mesma resposta que Cristo espera de cada um de nós: Creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus! Diante de um túmulo fechado, com choros e lamentações dos irmãos e dos conhecidos de Lázaro, estava a humanidade perdida e sem esperança. O homem é inerte perante a morte se não a contemplar com os olhos da doce alegria cristã, a esperança na vida eterna. Jesus chega diante do túmulo. Jesus, o homem-Deus, dá uma ordem e Lázaro revive. A morte não é obstáculo para Jesus, porque Ele a venceu, vence e sempre a vencerá, porque Ele é a vida sem fim. Neste gesto cândido e santo, de dar a vida a um mortal fiel, Jesus nos anuncia o nosso destino, se cremos Nele, vivermos Para Ele e Seguirmos os Seus Mandamentos, a sua Palavra de Salvação.

Ressurreição e Luz são dois temas intimamente ligados, porque são sinônimos da salvação: Se alguém caminha de dia, não tropeça; mas tropeçará, se andar de noite.

O tema central do Evangelho de hoje é a vida. Vida que foi restituída a Lázaro e que está ligada à amizade, ao amor fraterno, a compaixão, atitudes cristãos que estão presentes na glorificação de Deus, que é o destino dos homens e mulheres que crêem verdadeiramente. A vida verdadeira, que o Cristo trouxe, tem face humana e face divina, que se misturam.

A ressurreição de Lázaro é um dos maiores sinais de Jesus. Jesus, assim, vai manifestando a sua filiação divina, seu poder messiânico, sua missão salvadora, e provoca, cada vez mais, a admiração, a fé, o testemunho daqueles que são beneficiados pela sua ação evangelizadora. O próprio Evangelista João anuncia que Jesus fez muitos outros sinais, e que Estes sinais foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, em crendo, tenhais a vida.

Assim, poderíamos afirmar que a vida do homem é a razão de ser da encarnação de Jesus. Os milagres e sinais de Jesus foram efetuados para destacar a vida plena, a vida que só ele pode nos dar.


Padre Wagner Augusto Portugal
Blog Homilia Dominical